terça-feira, dezembro 28, 2010

Leve


"Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça."
(Eugénio de Andrade)

segunda-feira, dezembro 27, 2010

"Tenho tanto por dizer, tanto por te contar... Que a vida não chega"

Será verdade que, por vezes, quando mais há para dizer, menos é dito.
Devo um bilhete à vida, um recado a Deus, uma página de Diário escrita para mim. Devo muita coisa ao que passou. Devo muita vida ao que foi. Devo muito a muita gente, devo muito a mim mesma.

Não me faço entender? Se calhar é porque há pouco para entender e muito para viver.
Apetece-me entrar em "mode" de folga. Pegar nos meus livros, ir sentar-me à lareira, parar o tempo e fazê-lo andar consoante a minha vontade.
Viver momentos de novo, viajar, fazer 20 anos outra vez, cruzar-me de novo com pessoas importantes, e depois cortar pedaços dessas imagens e fazer um livro de memórias. Sim, queria fazer um livro de memórias. De memórias do passado, do presente, e -porque não?- do futuro. Encontrar sonhos e medos. Rever conquistas e perdas. Juntar todas as peças, as que estão lá e as que não estão.

Não gosto de ser demasiado vaga, mas...
Parece-me que a vida não chega! Para dizer tudo, para mostrar tudo, para viver tudo. Para ser tudo, e nada, e mais um pouco do que não conheço, e do que tenho medo, o do que já fui e me deixa com saudades, e do que serei se souber ser paciente e aprender.
Até aprender a fórmula, vou gostando de músicas que sabem falar por mim.





"Dois lírios sobre a mesa
Uma janela aberta sobre o mar
Trago em mim a certeza
De quem espera p´lo teu voltar

Um cheirinho a café
Fotografias caídas pelo chão
E no ar uma canção
Traz-me uma recordação

Tenho tanto por dizer
Tanto por te contar
Que a vida não chega
Tenho o céu e tenho o mar
E tanto para te dar
Que a vida não chega

Tenho um poema escrito
Guardado num lugar perto do mar
Tenho o olhar no infinito
E suspiro devagar

(...)
O tempo aqui parou
Desde que te foste embora
Só a saudade ficou
já não aguento tanta demora

(...)
Tenho tanto por dizer
Tanto por te contar
Que a vida não chega
Tenho o céu e tenho o mar
E sei que vou te amar
Para a eternidade…"

quinta-feira, dezembro 02, 2010

Cada vez mais.


Encontra o teu equilíbrio, o teu ponto-chave.
A música que tens que ouvir, o chá que tens que tomar, o hobby que tens que seguir, a maquilhagem que tens que pôr, o livro que tens que ler. O passeio que tens que dar. A tua rotina. A pessoa que consegues amar. O filme que te faz chorar, ou a anedota que te leva a gargalhar. A melhor hora do dia para estudar, a hora da lavandaria, a hora livre do teu dia, o café para tomares com aquela amiga com quem nunca estás, mas que te faz tão bem. O blog que tens que escrever. As pessoas a que queres chegar. A forma como o queres fazer. A voz que queres ter, a impressão que queres causar. O modo de te controlares, de relaxares, de perderes a cabeça e de buscares energia. A igreja a que gostas de ir, a cor com que gostas de pintar. Aquele duche-terapia, e aquela palavra que te liberta. Aquela memória que te sobe à alma (a alma é mais alta que tu?), aquele gesto que desce até ti. O momento em que tens que partir, e aquele em que tens que regressar.

Encontra o teu sítio, a tua essência, a tua vida. Consegue a tua paz. E, depois, vive o teu dia. Cada vez mais.

segunda-feira, novembro 29, 2010

smooth

Uma coisa simples, normalmente tem 1000 significados. E, por isso, apesar de ser, no fundo, simples, parece complexa- e, de certa forma, não deixa de o ser.
Uma coisa leve torna-se, por vezes, pesada. As coisas boas são quase tão difíceis de manter como de cativar.

E as coisas simples são as mais difíceis de sonhar, não são?

terça-feira, junho 15, 2010

à procura


estou à procura daquele tom que te descreva. daquela música que fale de ti, daquele livro que te conte. daquela chuva que seja o teu toque, daquele vento que seja o teu arrepio, daquela queda que seja a tua batida, daquele cheiro que te traga consigo. daquela manhã que te acorde devagar, daquela noite que te faça ceder de cansaço, daquela tarde que te mate de calor. daquele dia que te faça rir. daquele jogo que seja a tua vitória, daquela notícia que seja a tua glória. daquele olhar que te prenda, daquele beijo que te rompa, daquele abraço que te afogue. daquele olhar para o céu que te mostra o sentido, daquele voo que te leva para longe, daquela chegada que nunca sai de ti.
estou à procura do dia em que descobres mesmo quem sou. do dia em que nos cruzamos para não perdermos mais o rumo disto, do dia em que vou aí e de arranco da imagem. em que o corpo toma vida, em que a alma ganha cor, em que o dia ganha sentido. estou à procura desse dia!

domingo, junho 06, 2010

o que pesa mais na tua vida? qual é o momento mais pesado, a coisa ou a pessoa? o que é que te move?

sexta-feira, junho 04, 2010



a vida é curiosa. de um momento para o outro faz-te perder o jeito todo quando te surpreende com aquela memória antiga, que não espreras, que achavas que tinha passado, que afinal de contas no passado nem parecia ter uma importância assim tão grande.. mas que agora é pesada, pesada. volta, e faz-te sentir mal com o que não soubeste ser com o que o caminho te deu, com o que ele te ofereceu. com o que perdeste, porque não viste.
não mandas no que sentes, muito menos no que vês. não mandas no que gostas, por vezes também não no que fazes. por mais que te custe, muitas vezes a vida é mesmo levada quase à deriva, e estás sonolento.
veres a realidade é das coisas mais duras. primeiro, porque os teus olhos não te chegam, a verdade é muito maior que eles. e depois porque, para veres as coisas como elas são, tens que aceitar a presença dum seu suposto inimigo: o sentimento. dois polos que não vivem separados.
e depois do rio passar, parece tudo claro. o teu sorriso parace brilhar mais do que nunca, assim, rasgado e franco. a tua delicadesa parece a coisa mais doce, a tua voz soa de outra forma. vejo-te noutra dimensão. vejo o que não fomos num espaço novo. quente, especial, confortável. perdido.
e não sei se és tu que já não estás. eu é que fui, e não sou mais.
como tudo na vida, vai-se perdendo. e eu perdi-me de ti.

domingo, maio 16, 2010

o teu pedaço de mundo

tenho saudades daquele sentimento. de acordar pela manhã, pensar em ti, e transformar o meu dia-pesadelo, num pesadelo com algumas pausas de cor.
tenho saudades de estar apaixonada. estar apaixonada. preciso disso para viver. reciso muito. tenho que me apaixonar, muito, sempre. não precisa de ser por ti, não. basta-me que seja por alguma coisa. basta-me que seja por um projecto, por um abraço, por um motivo, por uma música. por um momento.
preciso muito de estar apaixonada. mas não é por ti. não. preciso só de me apaixonar por mim. de acordar às 6 e meia da manhã, lavar a cara, pôr a minha base e o meu risco preto, colares às cores e um sorriso na cara. pegar na minha mala, partir para o que me espera. e estar apaixonada. pelo sol lá fora, pelo condutor que me deixa passar no vermelho, pela senhora que me pergunta as horas. pelo casal que vejo na marmelada no jardim da gulbenkian, pelo pedinte que geme à saída do metro, pela mulher que grita porque perdeu o seu comboio.
não quero perder o meu comboio. quero apanhá-lo na hora certa. não, não o quero apanhar mais cedo. quero chegar na hora h. quase correr com a adrenalina a bombear-me.
sim, quero adrenalina. no fundo é isso. quero uma cidade de céus cinzentos sobre mim, quero o som de stilettos na calçada, qual ritmo frenético e apaixonante. quero cor, quero som, quero flores. quero surpresas, desilusões, conquistas, medos, ansias, vitórias.
e não sei se te vejo nisto tudo. não sei se a minha vida deixa espaço para ti. ou se tu me deixas espaço para vida. ou se são ambos uma mesma massa e dimensão, alienantes e perigosas, confortáveis e arrepiantes. não sei se nasci para isto, não sei onde estás, não sei se te deva perder. sei que isto é complexo, sei que tu não entenderias, se te explicasse. sei que não te quero explicar. porque te vejo, mas não sei onde estás. porque te escrevo, sempre.
estarei apaixonada? só Deus sabe. quando isso acontecer, não quero que me chames. não quero que grites. quero que chegues um pouco atrasado. que não corras, mas que andes na minha direcção. depois, que te desculpes. que te rias do que digo, que sintas o que não sei explicar. que me contes histórias interessantes, vagas, dispersas, mas ricas. que me prendas, mas que me deixes. e que voltes, sempre. quero que siabas que corro, muito, para te ver. kms e kms, se for preciso. sim, eu faço essas coisas românticas. e espero que não tenhas medo de seres como és. e de conquistar o teu pedaço de mundo. porque eu vou querer estar no processo.
e, acima de tudo, vou querer que me fales. muito, muito baixinho. mas por cima de tudo.

quarta-feira, abril 21, 2010

nevoeiro

o nevoeiro deixa os meus olhos chorosos e o sorriso chato a pender-me dos lábios. abraço-me, dentro desse casaco branco que pesa menos que a saudade, e deito a cabeça no regaço. no meu próprio regaço. quase que sinto esse teu toque que nunca senti. quase que sinto a essência do mundo a tocar-me nos braços, enquanto sussura versos soltos que não são para se compreender.
o sol quase se ri de mim, a deixar em seu lugar um vento frio que me recolhe às minhas próprias muralhas, que me deixa a navegar nos meus pensamentos. à superfície, muito à superfície.
de onde estás, também vês o mar. e eu queria estar contigo. ninguém tem que passar pela provação de enfrentar o seu mar sozinho, ninguém devia ter que ouvir as suas nuvens inconscientes no ribombar da melancolia, nem escutar o sopro mais fundo do desejo que se solta sem querer num dia de nevoeiro.
devias chegar e beijar o meu medo de naufragar. não sei é se serias capaz de amar....

10/07/2009

quinta-feira, abril 15, 2010

imagens soltas. de rua. olhos que não se fecham, sonhos que não chegam. o barulho de um carro a passar. um avião que trespassa o céu, no seu caminho para casa. corações que rumam ao seu destino. vidas que se perdem. que se cruzam. que se mostram. mas acima de tudo que se juntam. olhos que se abrem, abraços que se dão. beijos no fim, como garrafas que acabam, e deixam mais sede. partidas que não se descolam, imagens que se evaporam, sentimentos que se experimentam, mãos que se tocam. pessoas que vão. para longe, para perto. o mundo que gira. tu que chegas, tu que vais. uma música que se ouve, um medo que volta. um amor que se perde.
uma vida que se vive.

e no meio disto tudo, qual é o teu espaço?
na folha que se solta, ou no riso que se esquece? no silêncio que não se comanda, ou na palavra que fere? no ódio, no amor, no medo, ou no fim?

sexta-feira, abril 09, 2010

sem falares, dizes-me o sentido. obrigada.

metafísica. espititualidades. misticismo.

se há muita coisa que nao se explica, se há muita coisa que só se sente. nunca encontraremos explicação para tudo... e será que queremos?

se calhar, o amor perde a piada se for interpretado como um processo puramente biológico, físico, de acção de hormonas e reconhecimento de odores, que, em última instância, tem por fim o acto sexual e a reprodução. se calhar, perde a piada se explicarmos. ou ganha interesse se for mais que isso. não somos só corpo, massa, acção. somos alma, vontade, inexplicável.

talvez o caminho se centre em abarcar que nem tudo se explica, ou que não queremos explicar tudo. afinal, queremos viver, não queremos construir teses.

e, normalmente, o que não tem explicação, faz(-nos) mais sentido.

terça-feira, março 23, 2010

Home


naqueles dias em que não escreves, é porque sentes muito. sentes a prémio.


não precisas de escrever, basta-te pensar. não precisas de agarrar, basta-te aflorar. porque aquilo de que precisavas ficou no ar, suspenso. qual nuvem roxa e palpitante em que pegas quando fechas os olhos e não estás mais cá.


e é nesses dias que, sem quereres, estás mais acompanhada do que nunca. é nesses dias que tens, sem possuires, como a Lídia do Fernando Pessoa. desenlacemos as mãos, pousemos as rosas no colo.


o teu lado cego não está mais lá. vês tudo o que a intuição te entrega, podes sentir as coisas no teu timing, à tua maneira. não cais. repetes a imagem as vezes que queres.

mas, de uma qualquer forma requintada, tens mais certezas que nunca.

está tudo em ti, para ti, contigo.


fecha os olhos. o que vês?

segunda-feira, março 08, 2010


Que magia há em escrever para alguém?

Que magia há em juntar letras pretas, pequenas e medrosas, em palavras frágeis, frases em vão. Em pedaços de carne, em restos de cinza, em sopros de nada. Que magia há em ser, em entregar, em partir, em arranhar, em beijar, em mostrar, em declamar. Só porque sim, só porque se gosta. Assim, gratuitamente.

Gastar papel, usar caneta. Perder minutos, deixar coração. Que magia há nisso?

Na entrega, na conquista, no romantismo, na sinceridade e no perdão? Na chegada e no abraço, na dor e na fé, no amor e na loucura. Que magia, que sentimento, que busca?


A mesma que se encontra no floco de neve, no gotejar da chuva, no sopro do vento, no grito de quem nasce, na lágrima de quem parte. A mesma que encontras nas arrecadações de ti, nos emaranhados dos teus seres, nas páginas das tuas vidas. A mesma que perdes na noite de trovoada, a meio do chocolate quente, ou no fundo dos olhos pretos onde gastas o que foste. A mesma que está em ti, e por isso não entendes.

E, por isso, não escrevas para ninguém, mas escreve antes para ti. Porque quando achas em alguém a magia que perdes em ti, não precisas de falar e já só te basta escrever: o resto perde-se na cinza da chuva, e não se encontra nunca, nunca mais.