terça-feira, março 23, 2010

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naqueles dias em que não escreves, é porque sentes muito. sentes a prémio.


não precisas de escrever, basta-te pensar. não precisas de agarrar, basta-te aflorar. porque aquilo de que precisavas ficou no ar, suspenso. qual nuvem roxa e palpitante em que pegas quando fechas os olhos e não estás mais cá.


e é nesses dias que, sem quereres, estás mais acompanhada do que nunca. é nesses dias que tens, sem possuires, como a Lídia do Fernando Pessoa. desenlacemos as mãos, pousemos as rosas no colo.


o teu lado cego não está mais lá. vês tudo o que a intuição te entrega, podes sentir as coisas no teu timing, à tua maneira. não cais. repetes a imagem as vezes que queres.

mas, de uma qualquer forma requintada, tens mais certezas que nunca.

está tudo em ti, para ti, contigo.


fecha os olhos. o que vês?

segunda-feira, março 08, 2010


Que magia há em escrever para alguém?

Que magia há em juntar letras pretas, pequenas e medrosas, em palavras frágeis, frases em vão. Em pedaços de carne, em restos de cinza, em sopros de nada. Que magia há em ser, em entregar, em partir, em arranhar, em beijar, em mostrar, em declamar. Só porque sim, só porque se gosta. Assim, gratuitamente.

Gastar papel, usar caneta. Perder minutos, deixar coração. Que magia há nisso?

Na entrega, na conquista, no romantismo, na sinceridade e no perdão? Na chegada e no abraço, na dor e na fé, no amor e na loucura. Que magia, que sentimento, que busca?


A mesma que se encontra no floco de neve, no gotejar da chuva, no sopro do vento, no grito de quem nasce, na lágrima de quem parte. A mesma que encontras nas arrecadações de ti, nos emaranhados dos teus seres, nas páginas das tuas vidas. A mesma que perdes na noite de trovoada, a meio do chocolate quente, ou no fundo dos olhos pretos onde gastas o que foste. A mesma que está em ti, e por isso não entendes.

E, por isso, não escrevas para ninguém, mas escreve antes para ti. Porque quando achas em alguém a magia que perdes em ti, não precisas de falar e já só te basta escrever: o resto perde-se na cinza da chuva, e não se encontra nunca, nunca mais.