quarta-feira, abril 21, 2010

nevoeiro

o nevoeiro deixa os meus olhos chorosos e o sorriso chato a pender-me dos lábios. abraço-me, dentro desse casaco branco que pesa menos que a saudade, e deito a cabeça no regaço. no meu próprio regaço. quase que sinto esse teu toque que nunca senti. quase que sinto a essência do mundo a tocar-me nos braços, enquanto sussura versos soltos que não são para se compreender.
o sol quase se ri de mim, a deixar em seu lugar um vento frio que me recolhe às minhas próprias muralhas, que me deixa a navegar nos meus pensamentos. à superfície, muito à superfície.
de onde estás, também vês o mar. e eu queria estar contigo. ninguém tem que passar pela provação de enfrentar o seu mar sozinho, ninguém devia ter que ouvir as suas nuvens inconscientes no ribombar da melancolia, nem escutar o sopro mais fundo do desejo que se solta sem querer num dia de nevoeiro.
devias chegar e beijar o meu medo de naufragar. não sei é se serias capaz de amar....

10/07/2009

quinta-feira, abril 15, 2010

imagens soltas. de rua. olhos que não se fecham, sonhos que não chegam. o barulho de um carro a passar. um avião que trespassa o céu, no seu caminho para casa. corações que rumam ao seu destino. vidas que se perdem. que se cruzam. que se mostram. mas acima de tudo que se juntam. olhos que se abrem, abraços que se dão. beijos no fim, como garrafas que acabam, e deixam mais sede. partidas que não se descolam, imagens que se evaporam, sentimentos que se experimentam, mãos que se tocam. pessoas que vão. para longe, para perto. o mundo que gira. tu que chegas, tu que vais. uma música que se ouve, um medo que volta. um amor que se perde.
uma vida que se vive.

e no meio disto tudo, qual é o teu espaço?
na folha que se solta, ou no riso que se esquece? no silêncio que não se comanda, ou na palavra que fere? no ódio, no amor, no medo, ou no fim?

sexta-feira, abril 09, 2010

sem falares, dizes-me o sentido. obrigada.

metafísica. espititualidades. misticismo.

se há muita coisa que nao se explica, se há muita coisa que só se sente. nunca encontraremos explicação para tudo... e será que queremos?

se calhar, o amor perde a piada se for interpretado como um processo puramente biológico, físico, de acção de hormonas e reconhecimento de odores, que, em última instância, tem por fim o acto sexual e a reprodução. se calhar, perde a piada se explicarmos. ou ganha interesse se for mais que isso. não somos só corpo, massa, acção. somos alma, vontade, inexplicável.

talvez o caminho se centre em abarcar que nem tudo se explica, ou que não queremos explicar tudo. afinal, queremos viver, não queremos construir teses.

e, normalmente, o que não tem explicação, faz(-nos) mais sentido.