domingo, maio 16, 2010

o teu pedaço de mundo

tenho saudades daquele sentimento. de acordar pela manhã, pensar em ti, e transformar o meu dia-pesadelo, num pesadelo com algumas pausas de cor.
tenho saudades de estar apaixonada. estar apaixonada. preciso disso para viver. reciso muito. tenho que me apaixonar, muito, sempre. não precisa de ser por ti, não. basta-me que seja por alguma coisa. basta-me que seja por um projecto, por um abraço, por um motivo, por uma música. por um momento.
preciso muito de estar apaixonada. mas não é por ti. não. preciso só de me apaixonar por mim. de acordar às 6 e meia da manhã, lavar a cara, pôr a minha base e o meu risco preto, colares às cores e um sorriso na cara. pegar na minha mala, partir para o que me espera. e estar apaixonada. pelo sol lá fora, pelo condutor que me deixa passar no vermelho, pela senhora que me pergunta as horas. pelo casal que vejo na marmelada no jardim da gulbenkian, pelo pedinte que geme à saída do metro, pela mulher que grita porque perdeu o seu comboio.
não quero perder o meu comboio. quero apanhá-lo na hora certa. não, não o quero apanhar mais cedo. quero chegar na hora h. quase correr com a adrenalina a bombear-me.
sim, quero adrenalina. no fundo é isso. quero uma cidade de céus cinzentos sobre mim, quero o som de stilettos na calçada, qual ritmo frenético e apaixonante. quero cor, quero som, quero flores. quero surpresas, desilusões, conquistas, medos, ansias, vitórias.
e não sei se te vejo nisto tudo. não sei se a minha vida deixa espaço para ti. ou se tu me deixas espaço para vida. ou se são ambos uma mesma massa e dimensão, alienantes e perigosas, confortáveis e arrepiantes. não sei se nasci para isto, não sei onde estás, não sei se te deva perder. sei que isto é complexo, sei que tu não entenderias, se te explicasse. sei que não te quero explicar. porque te vejo, mas não sei onde estás. porque te escrevo, sempre.
estarei apaixonada? só Deus sabe. quando isso acontecer, não quero que me chames. não quero que grites. quero que chegues um pouco atrasado. que não corras, mas que andes na minha direcção. depois, que te desculpes. que te rias do que digo, que sintas o que não sei explicar. que me contes histórias interessantes, vagas, dispersas, mas ricas. que me prendas, mas que me deixes. e que voltes, sempre. quero que siabas que corro, muito, para te ver. kms e kms, se for preciso. sim, eu faço essas coisas românticas. e espero que não tenhas medo de seres como és. e de conquistar o teu pedaço de mundo. porque eu vou querer estar no processo.
e, acima de tudo, vou querer que me fales. muito, muito baixinho. mas por cima de tudo.