Caixas. Encaixotar, pôr num canto, preparar para as mudanças. Não há algo de profundamente nostálgico em fazer malas, em arrumações, em partidas?
Não há um toque de pó, de sujo, de velho, qual baú antigo de recordações? Não há um peso qualquer absolutamente louco e infantil nas memórias, nas recordações? Em especial naquelas que escondemos. Em caixinhas. Dentro de caixinhas. Como bonecas russas.
Não há um toque de esperança em partir, em viajar? No toque duma máquina fotográfica, em fotografias comidas pelo tempo, abandonadas pelo "frenetismo" dos dias, com felicidade estampada, revelações com muitos problemas ainda por conhecer, com muita vida ainda por viver.
Não há algo de límpido numa folha nova, branca, sobre uma mesa de vidro, tão frágil, tão forte, tão pequena, tão poderosa?
Não há algo de lindo nos sonhos? Nos sonhados acordados, e não a dormir. Nos sonhos conscientes: aqueles que construímos e vamos compondo, pintando, todos os dias.
E que dizer sobre as pessoas? Sobre as pessoas ricas, fortes, interessantes, curiosas, vivas, agitadas, preocupadas, emotivas, crentes, fiéis, corajosas, apaixonadas.
São elas, e nada mais que elas, que guardamos em caixas. captamos em fotografias. Passamos para folhas brancas. E compomos em sonhos. Todos os dias. Pelo menos todos os dias em que vivemos.
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